A decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava Jato levou o petista a discursar por 1 hora e 23 minutos em São Bernardo do Campo na última quarta-feira, 10. Ao acatar o pedido de habeas corpus da defesa de Lula, Fachin decretou a incompetência da Justiça Federal do Paraná para julgar quatro ações envolvendo o ex-presidente – a do sítio de Atibaia, duas ações sobre o Instituto Lula e a do tríplex do Guarujá. Durante o pronunciamento, Lula lembrou o período em que permaneceu preso, reforçando o discurso de que protagonizou uma prisão política ao afirmar que “foi vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história” do Brasil. Além disso, criticou a atual gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e defendeu que o Brasil deve ganhar novos contornos políticos. Em entrevista à Jovem Pan especialistas afirmaram que o tom adotado por Lula no discurso pode sinalizar sua intenção de concorrer à presidência em 2022. Caso o petista dispute o pleito, o cenário eleitoral deve sofrer fortes alterações. “Percebemos em seu pronunciamento que o ex-presidente Lula está fortalecido. Desde que foi preso, ainda não tínhamos visto ele falar da forma como fez nesta entrevista. Apesar de seus 75 anos de idade, pareceu muito lúcido e pronto para o embate político. Lula precisa deste embate em 2022 porque não quer deixar seu legado manchado na história do Brasil. Ele considera que seu retorno à Presidência ocorrerá através do movimento do povo brasileiro de repensar o Brasil e preservar o PT“, analisou o cientista político Márcio Coimbra.
Entenda os possíveis cenários eleitorais para 2022:
Lula x Bolsonaro
Márcio Coimbra considera que há grandes chances do eleitorado brasileiro permanecer dividido entre o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula no segundo turno das eleições em 2022. No entanto, para Coimbra, caso ambos avancem na disputa eleitoral, a segunda etapa do pleito não será tão acirrada. “O próprio Bolsonaro trabalhou para que Lula retomasse seus poderes políticos. Essa situação facilita a política do atual presidente, que é baseada no confronto, no antagonismo e na polarização. Para avançar na disputa eleitoral, Bolsonaro precisa de um inimigo e, com a decisão de Fachin, conseguiu o adversário que mais desejava: Lula. Apesar disso, o feitiço pode virar contra o feiticeiro, porque o lulismo, diferente do petismo, permanece muito forte e enraizado na sociedade. Além disso, Bolsonaro estará enfraquecido devido aos problemas da pandemia, à crise econômica e ao fato de ter perdido o apoio de vários grupos que o levaram ao poder, como os conservadores, liberais, lavajatistas e antipetistas. Aliás, o lulismo é muito maior do que o bolsonarismo. Quando Lula e Bolsonaro forem para o círculo eleitoral, o petista ganhará com facilidade”, disse.
Segundo o cientista político, o movimento bolsonarista está enfraquecendo porque Bolsonaro não tem tirado do papel as pautas que prometeu durante sua campanha em 2018. “O bolsonarismo seria mais enraizado se o presidente tivesse assumido as bandeiras que prometeu em campanha, como apoiar a Lava Jato, o combate à corrupção, acelerar as privatizações e não se aliar ao Centrão – mas isso não aconteceu.” Para ganhar as próximas eleições, Coimbra considera que Lula reforçará a narrativa de que foi vítima de uma prisão política e abraçará as demandas de centro. “Certamente Lula manterá o discurso de que não é o atual presidente do Brasil porque foi injustiçado por uma prisão política. Para ele, as eleições de 2022 configurarão o embate que deveria ter ocorrido na última disputa eleitoral. Em 2018, Bolsonaro até tinha chances de vencer o Lula, mas em 2022 será muito mais difícil, porque o presidente responderá por quatro anos de desgaste político em seu governo.”
Desta forma, Lula deve polarizar com Bolsonaro, mas abraçar propostas de campanha que não incluam apenas o eleitorado de esquerda. “Por exemplo, Lula polarizará com o atual presidente nas questões da pandemia, como o uso de máscaras, vacinas e distanciamento social – que são pautas de centro. Desta forma, Lula ocupa o centro político, mas polariza com Bolsonaro para atrair os grupos que antes o apoiavam e atualmente rechaçam o presidente. Em 2022, teremos um grande eleitorado antipetista que também se tornou antibolsonarista. Por isso, haverá um enorme número de votos nulos em um eventual segundo turno com os líderes da direita e da esquerda, uma quantidade de pessoas que engolirão a atuação do governo e seguirão votando no Bolsonaro e outra quantia do eleitorado que se desiludiu com o ‘capitão’ e voltará a votar em Lula”, concluiu.
Fonte: Jovem Pan