A ex-coordenadora da força-tarefa da Lava Jato, Thaméa Danelon, afirmou em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, nesta terça-feira, 6, que o sistema político continua a se opor ao combate à corrupção. “Os poderosos não têm interesse em acabar com a corrupção porque eles tiram proveito dela. O sistema beneficia os mal intencionados, desonestos. Poucas pessoas vão para a política com o espírito público de contribuir com a sociedade, com a vontade de melhorar o país.” Na avaliação da procuradora da República, mesmo eleito sob o discurso do combate à corrupção, o atual governo não tem realizado ações neste sentido. “A Justiça está muito relacionada à política e economia. Como defensora da ordem jurídica, não vejo um grande comprometimento do governo federal com o combate à corrupção”, afirmou.
Em fevereiro deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) anunciou o fim da força-tarefa da Lava Jato, desmantelando a maior operação contra a corrupção da história do país. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alegou que “acabou com a Lava Jato porque não existe mais corrupção no governo”. No entanto, para Thaméa Danelon, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro deixou a Esplanada por não compactuar com a postura do Executivo frente à luta contra os crimes. “Eu conheço o doutor Moro, ele é uma pessoa extremamente honesta, profissional, séria e comprometida com o combate à corrupção. Poucos juristas são patriotas como ele e Deltan Dallagnol. Moro aceitou o cargo de ministro para lutar contra a criminalidade em grande escala, foi um excelente titular da pasta, mas o sistema não quer que o combate à corrupção vença. Acredito que Sergio Moro saiu exatamente pela falta de compromisso do governo com esta agenda.” Além disso, ela reiterou que “não sabe se seria o caso” de Moro tornar-se candidato político, já que a pessoa precisa ter “muito estômago” para seguir por este caminho.
De acordo com a jurista, a corrupção endêmica, sistêmica e cultural – como caracteriza, apenas será freada com uma mudança na própria legislação brasileira. “A criminalidade nas altas cúpulas apenas será combatida com reformas, sobretudo a política. Atualmente, dos 513 deputados eleitos na Câmara, apenas 27 dependeram do voto popular. Ou seja, a maioria dos parlamentares foram puxados por um sistema político que está errado. Não somos devidamente representados e, por isso, a população precisa acompanhar a vida política do país”, concluiu.
Fonte: Jovem Pan