A indicação do cardiologista Marcelo Queiroga para o cargo de ministro da Saúde frustrou aliados do presidente Jair Bolsonaro no Congresso, sobretudo os integrantes do Centrão. Na avaliação de parlamentares ouvidos pela Jovem Pan, o médico que irá substituir o general Eduardo Pazuello no comando da pasta não terá carta branca para elaborar políticas de combate à pandemia do novo coronavírus e não questionará, ao menos publicamente, a postura do chefe do governo federal em relação à protocolos que não possuem o respaldo da ciência, como o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina, por exemplo.
Logo após o anúncio do nome de Queiroga, foram resgatadas publicações, nas redes sociais, nas quais o médico demonstra proximidade com a família Bolsonaro. Em uma delas, o cardiologista se referiu a Jair Bolsonaro como “nosso presidente”, em um post do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), tido como padrinho político da indicação, de setembro de 2020. Entre aliados do presidente da República, prevalece a leitura de que, no momento mais crítico do governo, o Palácio do Planalto recorreu a uma escolha de caráter pessoal, em detrimento de um nome apoiado por partidos da base – como era o caso da cardiologista Ludhmila Hajjar, que negou o convite nesta segunda-feira, 15. Por isso, encaram com ceticismo a possibilidade de haver uma guinada na condução da pasta.
@FlavioBolsonaro com a graça de Deus nosso presidente @jairbolsonaro vai superar mais essa adversidade.
— Marcelo Queiroga (@mqueiroga2) September 25, 2020
No domingo, 14, quando a médica era a principal cotada para o posto, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), saiu em sua defesa em seu perfil no Twitter. “Coloquei os atributos necessários p/ o bom desempenho à frente da pandemia: capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas. São exatamente as qualidades que enxergo na doutora Ludhmila. Espero e torço para que, caso nomeada ministra da Saúde, consiga desempenhar bem as novas funções. Pelo bem do país e do povo brasileiro, nesta hora de enorme apreensão e gravidade. Como ministra, se confirmada, estarei à inteira disposição”, escreveu.
Como a Jovem Pan mostrou, o entorno de Lira avaliava que Pazuello havia perdido a credibilidade ao fazer, e não cumprir, sucessivas promessas em relação ao cronograma da vacinação – nos últimos dias, o ministro da Saúde reduziu em mais de uma ocasião a quantidade de doses que serão disponibilizadas à população nos próximos meses. Diante do cenário, é consenso entre deputados e senadores ouvidos pela reportagem que o momento não permite uma gestão errática. “O Brasil não aguenta mais alguém brincando de ser ministro enquanto as pessoas estão morrendo”, diz um aliado do presidente da Câmara.
Entre os principais desafios do novo ministro da Saúde, dizem os parlamentares, estão a coordenação nacional de medidas de combate à pandemia, como pleiteiam governadores e prefeitos, a busca por mais vacinas contra a Covid-19, e a construção de um ambiente de diálogo entre as principais autoridades do país. “Entendo que a substituição do ministro Eduardo Pazuello pode contribuir para a construção de um ambiente de diálogo, melhorando a interlocução com governadores e prefeitos. Nenhuma crítica pessoal ao ministro Pazuello, mas precisamos de um recomeço no enfrentamento da pandemia”, disse em seu perfil no Twitter o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo Bolsonaro no Senado. “A troca no Ministério da Saúde atende uma das preocupações que motivaram o pedido de CPI no Senado. O momento é tão crítico, que exige união e diálogo para adotar todas as medidas necessárias para salvar vidas e enfrentar o colapso dos sistemas de saúde. Defendo que medidas duras de distanciamento sejam adotadas em algumas cidades para dar um freio na transmissão do vírus e um respiro para o serviço público de saúde”, acrescentou.
Fonte: Jovem Pan