A pandemia do coronavírus deu início a um período de medos e incertezas, que começam com a preocupação com a saúde até a insegurança com as finanças. Todos os grupos foram afetados pela Covid-19, em maior ou menor grau. Os idosos estão entre os mais atingidos, não só pela mudança abrupta de rotina, mas principalmente pelo aumento do preconceito. Culpá-los pela sobrecarga do sistema público de saúde se tornou comum e acentua uma discriminação já existente. Alexandre Kalache, médico gerontólogo, confirma esse cenário e diz que a população com mais de 60 anos pode até ser mais vulnerável, mas é muito resiliente. “Quando passar a crise, são os idosos que poderão ver a luz ao final do túnel, e isso não é valorizado. Somos a voz que vai acalentar essa população e mostrar que a vida tem uma continuidade”, argumenta. Embora as pessoas com mais de 60 anos estejam cada vez mais produtivas e participativas na economia doméstica, a velhice ainda é associada à improdutividade. A segunda edição da pesquisa “Idosos no Brasil”, realizada pelo Sesc, aponta que os idosos acreditam que são caracterizados como incapazes, ultrapassados e desinformados. O levantamento mostra também que eles se sentem desprezados, desrespeitados, alvo de preconceitos, maltratados e incompreendidos. Os números da pesquisa, no entanto, não caminham na mesma direção. Metade dos idosos brasileiros é chefe de família, 84% têm casa própria e um quarto ainda trabalha fora. Ou seja, a representatividade de quem tem mais de 60 anos na economia é grande.
Financeiramente, os idosos brasileiros têm um nível de proteção maior do que há 30 anos por causa da aposentadoria. E isso torna os aposentados responsáveis pela segurança financeira dentro de casa. “As famílias mais pobres brasileiras, que têm um idoso dentro de casa, estão protegidas contra a pobreza absoluta. Quando morre um idoso, aquela família mergulha na pobreza”, afirma o médico gerontólogo Alexandre Kalache. É por isso que se torna cada vez mais importante mudar a forma como a velhice é percebida pela sociedade, não só dos jovens em relação aos mais velhos, mas também dos jovens em relação ao próprio envelhecimento. Em 2025, o Brasil será o quinto país mais velho do mundo. Segundo o IBGE, em 2031 haverá mais idosos do que crianças e adolescentes.
Estamos preparados para envelhecer?
Esse envelhecimento acelerado tem levado cada vez mais pessoas a refletir sobre os anos a mais de vida, e principalmente sobre ter mais vida nesses anos. Alexandre Kalache é categórico ao defender que isso é possível apenas por meio de cuidados e hábitos desenvolvidos ao longo da vida. “Para se preparar para a velhice, é preciso alertar o jovem constantemente. Se você quer chegar à longevidade com qualidade de vida, prepare-se já. Quanto mais cedo melhor”, alerta o médico. A construção de uma vida mais longeva e saudável e o debate sobre O Novo Futuro da Longevidade estiveram na pauta do 15º Fórum da Longevidade. Neste ano, devido às restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, o fórum foi realizado digitalmente. A plateia, sempre acostumada a acompanhar as palestras e painéis in loco, assistiu pela tela do computador e do smartphone aos relatos inspiradores para todos que querem viver mais e melhor. Confira abaixo a íntegra do evento.