A filiação do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, ao PSDB expôs um possível isolamento do governador João Doria dentro do partido. Garcia, que fez parte do DEM por 27 anos, assinou a filiação aos tucanos em uma cerimônia nesta sexta-feira na capital paulista. Enquanto o evento ainda ocorria, o presidente nacional do Democratas, ACM Neto, fez duras críticas ao governador pelo Twitter. O ex-prefeito de Salvador classificou a mudança de sigla como uma “inexplicável imposição” de Doria “cuja inabilidade política tem lhe rendido altíssima rejeição e afastado os seus aliados”. ACM Neto completou que a “postura desagregadora do governador de São Paulo amplia o seu isolamento político, e reforça a percepção do seu despreparo para liderar um projeto nacional”.
João Doria negou pressão e respondeu o ex-prefeito. “Não é hora de ressentimentos. É hora de compreensão, de união. O que o Brasil mais precisa é de união. Ele veio para o PSDB para somar forças. Em nenhum momento ele manifestou qualquer posição negativa ao DEM. Compreendo a reação do presidente nacional do DEM, o perdoo por essa posição. Mas nós aqui, tenho certeza que também muito em breve entenderá o valor da União.” O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia chamou ACM Neto de oportunista e disse que o ex-prefeito nunca apoiaria João Doria. Nesta sexta, Maia pediu a desfiliação do DEM. Apesar das críticas, ACM Neto disse que o “Democratas espera preservar a longa história de parcerias construída com o partido”.
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que não há cisão. “Há um desencontro do que pode ser um desencontro de informações em relação ao aspecto em São Paulo. Mas, nacionalmente, é claro que está preservado. Temos alianças que vão permanecer e se aglutinar no que se afasta dos polos Lula e Bolsonaro como alternativa nacional.” A decisão de Garcia de entrar para o PSDB tem sido apontada como uma estratégia para que ele encabece a chapa tucana nas eleições para o governo paulista se Doria desistir da reeleição para disputar a Presidência. Doria e Garcia evitaram se posicionar como pré-candidatos.
O vice-governador de São Paulo disse que não é hora de falar sobre a corrida eleitoral no ano que vem, mas deve participar das prévias. “Vou me submeter as regras que o partido estabelecer para as candidaturas do ano de 2022 que ainda não estão colocadas. No momento certo, o presidente estadual do partido, o municipal, vão definir com os filiados. E, naturalmente, vou tratar deste assunto a partir do ano que vem.” O governador João Doria também evitou se colocar como pré-candidato e voltou a defender a realização de prévias. “Eu não sou pré-candidato. Temos uma prévia ainda pela frente e as prévias que vão definir qual será o candidato. Seguro e certo que lutarei para que o PSDB tenha candidato em condições de disputar. Neste momento, eu não sou.”
Já o tesoureiro do PSDB, César Gontijo, que mediou a cerimônia, deu a entender que o evento era uma passagem de bastão. “Essa luta, essa corrida de bastão. Nós estamos passando o bastão. Muito bem. Essa união de todos nós, tucanos, que vai dar continuidade.” Grandes nomes tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin não compareceram ao evento em um hotel de luxo na zona sul da capital. Há indícios de racha no partido porque alguns integrantes defendem que Alckmin seja candidato ao governo paulista em 2022. A ausência de Serra foi minimizada com a leitura, durante a cerimônia, de uma mensagem do senador dando as boas-vindas a Rodrigo Garcia.
*Com informações da repórter Nanny Cox