Saída dos EUA, medo de guerra civil e avanço do Talibã: entenda o que acontece no Afeganistão

Cidade de Farah foi uma das ocupadas pelos talibãs; na imagem, soldados fazem rondas na região

Um mapa de poder que muda todos os dias. O Afeganistão, que tem pouco mais de 38 milhões de habitantes e ao longo de quase duas décadas ocupou manchetes por causa da guerra ao terror anunciada pelos Estados Unidos após os atentados do 11 de setembro, vê em menos de uma semana o avanço desenfreado das forças do Talibã ocupando cada vez mais províncias importantes do país. Até o momento, 18 de 34 capitais foram tomadas pelos insurgentes, que avançam a caminho da capital Cabul e levantam o temor de uma guerra civil causada por uma possível resistência. Entenda a crise que abate o país em meio à tensão de possíveis confrontos armados, ao medo de um novo governo extremista e à possibilidade de uma nova crise migratória ao redor do mundo.

Quem é o Talibã?

Para entender o contexto atual do Afeganistão, é importante traçar uma linha do tempo e conhecer o papel do Talibã no país. O grupo de insurgentes foi formado ainda no contexto da Guerra Fria como um conjunto de guerrilheiros apoiados pelos Estados Unidos, Arábia Saudita e Paquistão para derrubar o governo afegão formado pela União Soviética após a invasão da nação pelas forças comunistas no fim da década de 1970. No final de 1980, os grupos organizados conseguiram expulsar os soviéticos do país. “Quando as tropas são expulsas, eles entram em guerra civil. Como havia vários grupos [de insurgentes], eles entram em competição e o Talibã acaba prevalecendo sobre os demais”, explica o professor do departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Reginaldo Nasser. O docente, que pesquisou por anos o comportamento do grupo para fazer um livro sobre ele, explica que a evolução dos insurgentes de um pequeno grupo armado até os responsáveis pelo poder do país na década de 1990 passa por uma série de atos de “justiça com as próprias mãos” e pela ascensão política facilitada por vácuos de lideranças deixados em um cenário devastado pela guerra.

Com a proximidade do fim da década de 1990, porém, o país passa a receber de volta alguns dos seus ex-combatentes, que foram perseguidos no exterior por supostas organizações de atos terroristas ao redor do mundo. “Muitos líderes importantes, como Osama Bin Laden e Ayman al-Zawahiri, passaram a ser perseguidos em países como o Sudão e voltaram para o Afeganistão em 1997, ficando lá com uma espécie de proteção e abrigo do Talibã”, recorda o professor. Em 11 de setembro de 2001, um dos maiores atos terroristas arquitetados por Osama Bin Laden mata quase 3 mil norte-americanos em uma série de atentados no território dos Estados Unidos. Em pouco tempo, a Casa Branca pede que o Afeganistão, até então comandado pelo Talibã, entregue o idealizador dos atos de terror, o que não ocorre. Em retaliação, no dia 7 de outubro de 2001, as tropas dos EUA iniciam a “Operação Liberdade Duradoura”, invadindo o país para derrubar o grupo.


Fonte: Jovem Pan

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