Em pronunciamento na terça-feira, 23, o presidente Jair Bolsonaro voltou a falar sobre tratamento precoce contra a Covid-19. Médicos, porém, fazem alerta sobre o uso indiscriminado da cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, chamados de “kit-covid”. O chefe da Unidade de Terapia Intensiva do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, doutor Jaques Istainboque, diz que a ivermectina, que é um antiparasitário, pode causa intoxicação. A combinação da cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina, um antibiótico para infecção bacteriana, aumenta o risco de arritmia cardíaca. Nenhum deles tem comprovação científica de ação direta contra a Covid-19. O antibiótico azitromicina até pode chegar a ser usado, mas em casos graves de pacientes que desenvolvem infecção bacteriana decorrente do coronavírus. Por isso, medicação só com avaliação médica e dentro do ambiente hospitalar, como vem sendo feito com corticoides.
“Existe um protocolo, que já vem de meados do ano passado, com resultado espetacular que mostra o desfecho de pacientes que tomam dexametasona, que é um tipo de corticoide, e tiveram uma redução de letalidade”, explica Jaques Istainboque. Carlos Carvalho, que é responsável para UTI respiratório do Instituto do Coração de São Paulo (Incor), diz que neste momento vários pacientes intubados chegaram no Incor já graves justamente por terem feito uso do kit-covid. Ele reforça que, se funcionasse, não teríamos tantas mortes ou casos graves. “A base para esse tipo de tratamento é assim: ‘um paciente fez diagnóstico de Covid-19, dei o remédio para ele e ele melhorou’. Esse tipo de ciência é uma ciência baseada em evidencias não robustas!”
Pelo mundo, cientistas trabalham em estudos sobre a eficácia de antivirais. Um deles que recentemente ficou conhecido no Brasil é o Remdesivir, já que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da droga para o tratamento da Covid-19. Os técnicos da agência justificaram a decisão baseada em análises internacionais e especificaram o uso para alguns casos. A aplicação fica restrita a hospitais e pacientes no início do tratamento e que precisam de oxigênio suplementar de maneira não invasiva. O Remdesivir ainda não é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde.
*Com informações da repórter Carolina Abelin
Fonte: Jovem Pan