Mesmo existindo desde o fim da década de 1980, o Talibã ganhou manchetes internacionais junto aos atentados terroristas de 11 de setembro, que mataram quase 3 mil pessoas no ano de 2001 nos Estados Unidos e lançaram ao mundo imagem das duas torres no centro comercial de Nova York desabando em uma cortina de fumaça preta. A partir daí, a guerra ao terror jurada por George W. Bush contra o Afeganistão e o poder que tinha abrigado a articulação dos ataques trouxe ao mundo os nomes da Al-Qaeda e as denúncias de violações de direitos humanos do governo baseado em uma ideologia radical e deturpada dos ensinamentos islâmicos. Com a saída das tropas norte-americanas do Afeganistão após vinte anos e o avanço rápido dos talibãs de volta ao poder, o mundo questiona quais as possibilidades de um novo atentado terrorista como o que abriu o milênio.
Talibã fez Afeganistão “voltar 20 anos” em 2021, mas tempos são outros
Não há quem duvide do fundamentalismo, do tolhimento de direitos das mulheres e das violações frequentes que o Talibã exercia no Afeganistão antes de perder o poder e agora, trazendo ao país a impressão de uma regressão de duas décadas. As relações externas da nação, porém, podem não ser as mesmas de 20 anos atrás, já que o cenário internacional torna mais difícil a existência isolada de um país, que precisa de aproximações, pelo menos de vizinhos, para investir em infraestrutura e ter bons fluxos comerciais, importando bens e dando vazão para os poucos produtos produzidos em território nacional. “O Talibã de hoje é muito mais pragmático. Ele sobrevive esses anos na clandestinidade se remodelando para serem vistos pela própria população afegã ou pelo menos tentarem fazer com que fossem vistos como a única solução viável de uma estrutura minimamente estável no país, apesar do seu radicalismo ideológico, da prática política muito autoritária, conservadora, ditatorial e necessariamente teocrática. Então, o que podemos esperar deles é uma certa observação. Eles estão observando como o mundo vai reagir perante esta retomada territorial que houve no país”, afirma em entrevista à Jovem Pan o professor de relações internacionais da Universidade Anhembi Morumbi, Jorge Mortean. O docente lembra do período em que o Talibã surgiu, financiado pelos Estados Unidos e outros países capitalistas para expulsar os soviéticos do Afeganistão no contexto da Guerra Fria, ainda na década de 1980, e explica que as décadas nas quais foram afastados do poder podem ter contribuído para uma mudança “política” atual.
Fonte: Jovem Pan