O Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, foi transformado em feriado nacional há 41 anos, por meio da lei 6.802/80, e se tornou uma das principais comemorações do Brasil. Um dos destinos mais visitados no 12 de outubro é o Santuário Nacional de Aparecida, localizado na cidade de Aparecida, no interior de São Paulo. As instalações comportam milhares de fiéis e chegam a receber milhões de visitantes anualmente. Em 2017, quando foram celebrados os 300 anos da padroeira, a Basílica bateu o recorde de visitantes: cerca de 13 milhões. Para este ano, espera-se público mais modesto, perto dos 3,3 milhões do ano passado. Entretanto, por mais importante que o aspecto religioso esteja intrinsicamente ligado à cidade, a viagem até Aparecida não se restringe apenas à romaria. É possível praticar esportes de aventura, celebrar as belezas naturais do trajeto e, é claro, exercer a fé. Confira abaixo o que fazer na viagem até o município do interior paulista.
Esportes
Localizada a 170 km da capital paulista, Aparecida costuma ser acessada por veículos como ônibus e carros. Entretanto, há quem opte por métodos alternativos. A utilização de bicicletas, com milhares de fieis pedalando até o Vale do Paraíba pelas rodovias paulistas, é um deles. Outros grupos fazem a peregrinação a pé, percorrendo os quase 200 km sem o auxílio de nenhum veículo. Segundo serviços de GPS, a caminhada partindo de São Paulo pode durar até 40 horas. Tanto no trajeto a pé como no em duas rodas, é necessário realizar uma preparação prévia, focando no condicionamento físico necessário para aguentar a rota sem prejuízos para a saúde. Além disso, é recomendado ir para a cidade em pequenos grupos. Boas companhias podem ajudar em eventuais problemas e evitam a solidão no extenso trajeto.
Alguns romeiros aproveitam para aliar a fé à preparação para competições esportivas. Daniel Nunes Viri, educador, que fez seis vezes a peregrinação, disse que já encontrou grupos que se preparavam durante o o trajeto. “Tem muita gente que vai na pegada espiritual, mas também tem uma galera que vai na pegada dos esportes de aventura. Gente que viaja de bike, correndo… Na última vez que fui, em 2020, conheci uns caras que estavam treinando para uma ultramaratona”, contou Daniel. A desgastante e recompensadora experiência atrai até famosos. No ano passado, o ex-jogador de basquete Leandrinho pedalou 270 km entre Jundiaí e Aparecida. “A bicicleta tem um papel muito importante em minha vida. Diante da pandemia, passei a pedalar todos os dias para me manter em forma. Então, tive a inspiração [de ir até a Basílica pedalando]”, declarou o ex-jogador da NBA e seleção brasileira.
Lazer fora do Santuário
Apesar de ser conhecida por conta do Santuário, Aparecida também possui outras opções turísticas fora das instalações religiosas. Muitas delas estão ligadas à padroeira e são bastante o requisitadas pelos fieis. O Porto Itaguaçu, por exemplo, permite a realização de um passeio de barco até o local no qual a imagem da santa foi pescada. Também há um teleférico com duas estações (uma no Santuário Nacional e outra na Basílica Velha), que percorre uma distância de 1.200 metros a 115 metros de altura. O bondinho passou por uma revitalização e voltou a funcionar após cinco meses no último dia 11 de setembro. A partir deste sábado, 9, os visitantes também poderão assistir ao espetáculo “Mãe Aparecida”, que será exibido diariamente até o dia 12 de outubro. A apresentação é feita através de uma projeção. As sessões começam as 19h.
“Também há as belezas do trajeto. Você passa por cada região… É lindo para caramba”, acrescenta Daniel Viri. Ele destaca a cidade de Cunha, com seus parques, rios e cachoeiras. A estância turística está a apenas 54 km de Aparecida. A comunidade católica de Canção Nova (Cachoeira Paulista), o Santuário de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão (Guaratinguetá) e arquitetura europeia de Campos do Jordão são outros pontos turísticos das cidades vizinhas á Basílica de Nossa Senhora. “Pode ir na fé”, recomenda Daniel, usando um trocadilho religioso.
O Caminho da Fé
Inspirado no famoso Caminho de Santiago, na Espanha, o Caminho da Fé foi inaugurado em 2003 com o intuito de oferecer estrutura aos romeiros. Há diversos pontos de apoio durante os 970 km de trajeto mesclado por estradas vicinais, trilhas, bosques e asfalto. Dono de uma hospedaria que leva seu nome, localizada no meio do caminho, em São Bento do Sapucaí, Jucemar Rodrigues de Souza já ouviu diversas histórias de fé dos peregrinos que pararam em seu estabelecimento. Em entrevista à Jovem Pan, ele contou a que mais lhe marcou.
O ano foge da memória. Há algum tempo, um homem chegou em sua pousada e pediu para utilizar o telefone via satélite, sem dizer para quem estava ligando. “Achei até engraçado, pensei que fosse um vendedor. Mas a gente foi jantar, conversamos um pouco, e ele foi dormir. Pediu o café da manhã muito cedo”, recorda Jucemar. O homem retornou tempos depois e contou de fato o que aconteceu. Antes de chegar na hospedaria, havia recebido a notícia de que um de seus filhos morreu no parto. A mulher estava sobrevivendo à base de aparelhos e seu outro filho, recém-nascido, morreria em questão de tempo. “O médico entrou na sala e perguntou: ‘Você tem fé. Ele respondeu que sim. E o médico falou: ‘Reza e pede, porque não existe nada que a gente possa fazer. Um filho seu já faleceu, a sua esposa está por aparelhos e o outro filho é questão de tempo. Se você autorizar, desligamos o aparelho agora”, contou o dono da pousada.
O homem não sabia o que fazer. Começou a caminhar até Aparecida, pedindo para o médico passar a situação da esposa e da criança. Passados alguns dias, não conseguia se comunicar com aquele que acompanhava sua família. “Chegando em Aparecida, ele se ajoelhou e pediu. Quando ele foi descer a rampa, para sua surpresa, olhou e viu que sua família o aguardava lá embaixo. Sua esposa, o filho, o médico e o resto da família estavam lá embaixo. Enquanto ele percorreu o Caminho da Fé, a esposa e o filho melhoraram”, vibrou Jucemar. Segundo o emocionado relato do dono da pousada, não existia explicação clínica para a melhora repentina da família do peregrino.
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O que levar, vestir e comer?
Ao longo da visita à cidade e ao Santuário, não existem muitas opções de repouso. Isso, aliado ao calor, pode dificultar a vida do viajante, que terá longas horas de caminhada no local. É recomendada a utilização de roupas confortáveis e leves, mas que não fujam da caracterização do ambiente religioso. Além disso, dependendo da previsão do tempo, o uso de protetor solar é imprescindível para o trajeto envolvendo a visita completa da Basílica. Por fim, os visitantes também devem levar comidas leves e se manterem hidratados durante o trajeto, sobretudo aqueles que percorrerão longos quilômetros sem nenhum descanso.