A pandemia de Covid-19 afetou a vida e saúde das pessoas de inúmeras maneiras. Dados de uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas mostram que 52,6% dos brasileiros apresentaram sintomas psicológicos ao longo de 2020, com 31,7% dos idosos relatando a sensação de ansiedade e nervosismo “sempre ou quase sempre” durante o isolamento social. Mais de um ano após o primeiro caso da doença no país, a situação está longe de acabar. Com o início da vacinação em massa no Brasil, pessoas com 60 anos ou mais vivem quadros de ansiedade generalizada, depressão e estresse pós-traumático. “Estava esperando com uma certa tranquilidade. Embora soubesse que o nosso governo não teve capacidade de produzir uma vacinação em massa rapidamente, sempre fui positivo, só que estava guardando essa ansiedade no psicológico, sabe? Eu não dormia, ficava sonhando que a vacina tinha acabado, que estava na fila e acabou a vacina, aquela confusão”, conta o aposentado Luiz Carlos de Morais, de 69 anos, vacinado nesta quinta-feira.
A história de Luiz Carlos está longe de ser exceção. A psicóloga Vanessa Gebrim explica o aumento de casos de ansiedade nos idosos após a imunização. “Alguns tomaram a primeira dose e não sabem quando vão tomar a segunda, não chegaram todas as doses. Eles também sabem que, se a população não for vacinada, vão ter que continuar mantendo o isolamento. A pandemia continua, porque, com essa nova cepa, outras pessoas estão sendo infectadas. Eles têm parentes, filhos, netos e isso aumenta a ansiedade por você não ver a pandemia cessar. Isso desencadeia incertezas e acaba gerando um trauma muito grande”, comenta. Segundo Gebrim, essa falta de perspectiva afeta ainda mais os idosos pelo medo de não conseguir recuperar o “tempo perdido” durante a pandemia. “Cada ano que ficamos parados é menos um ano na vida deles. E têm pessoas que já estão na fase dos 80, 84 anos e ficam ansiosas. Como vou desfrutar os meus últimos anos de vida com a pandemia?”
A especialista em gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Valmari Cristina Aranha, comenta que os idosos viveram três grandes momentos da pandemia, com diferentes impactos na saúde mental: a fase de susto, iniciada com as primeiras restrições; a etapa da aprendizagem, com a construção de novos hobbies dentro de casa e, agora, o momento da fadiga, que seria superado com a imunização. No entanto, a vacinação não trouxe o alento esperado, o que desencadeia o desequilíbrio mental. “Foi vendido aos idosos que teríamos a vacina e a vida retomaria. Isso gera frustração, uma decepção e coloca as pessoas novamente em uma situação de vulnerabilidade, desamparo e desproteção. Cria uma situação de muita impotência e essa sensação gera ansiedade, porque diante do desconhecido, do imprevisível, eu me desorganizo.” Para a Valmari, que também é psicóloga, o grande problema é que, além de impulsionar novos medos, o contexto pandêmico também potencializa quadros já diagnosticados de ansiedade porque, agora, de fato, há motivos para temer. “Antes alguns quadros eram inanimados, eu não tinha um monstro embaixo da cama como tenho agora. Esses comportamentos não tinham justificativa real, agora temos. A Covid-19 está aí cheia de motivo para nos preocuparmos.”
Fonte: Jovem Pan