Deputada federal e presidente nacional do Podemos, Renata Abreu (SP) afasta qualquer possibilidade de o ex-juiz da Operação Lava Jato Sergio Moro recuar de sua pré-candidatura à Presidência da República para disputar uma cadeira no Senado. E a razão, explica a dirigente partidária, está evidenciada nas pesquisas de intenção de voto, que apontam o ex-ministro do governo Bolsonaro como o nome mais competitivo da chamada terceira via, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente Jair Bolsonaro. “Moro é o único candidato da terceira via. A candidatura é irreversível”, diz.
Embora aponte Moro na terceira colocação, com 9%, a pesquisa Genial/Quaest divulgada no início da última semana também mostra que o ex-ministro do governo Bolsonaro é rejeitado por 59% dos eleitores, o terceiro maior patamar, atrás apenas do presidente Jair Bolsonaro (66%) e do governador de São Paulo, João Doria (60%). Para Renata Abreu, o número não é um impeditivo para a campanha. “Numa pesquisa que fizemos, quem rejeita Lula diz que ele é corrupto e ladrão. Quem rejeita Bolsonaro diz que ele é despreparado e incompetente. Os que rejeitam Moro dizem que ele é parcial. O que é mais fácil de reverter: a percepção de que alguém é parcial ou corrupto e incompetente? O motivo da rejeição é mais importante do que o percentual em si, porque vemos se há ou não condição de reversibilidade”, afirma. À Jovem Pan, Renata Abreu fala sobre a possibilidade de aliança com o União Brasil, os próximos passos da campanha de Moro e quais as projeções do Podemos para as eleições gerais de outubro deste ano. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
A candidatura de Moro é alvo de diversos rumores. A postulação é para valer? Claro que sim. Moro é o único candidato da terceira via. É óbvio que ele é candidato, é irreversível. Ele jamais faria essa movimentação da vida se não fosse para valer.
Nos últimos dias, foi aventada a ideia de Moro deixar o Podemos para se filiar ao União Brasil. Nesse cenário, a senhora seria a candidata a vice-presidente. Em que pé estão estas negociações? Não descartamos nada para o Moro ganhar a eleição. Tem as pessoas que querem que eu seja a vice, há quem queira o Bivar [futuro presidente do União Brasil]. Temos muitas conversas, mas nada decidido, nada avançado.
Os defensores da aliança com o União Brasil dizem que este é um momento imprescindível para que Moro tenha estrutura partidária para colocar na rua uma candidatura competitiva. A senhora concorda com essa avaliação? O partido de peso agrega, é claro. O fundo do Podemos não é do tamanho do União, mas é considerável. São quase R$ 200 milhões, dá para trabalhar uma candidatura nacional. Nosso projeto principal é oferecer alternativa para o Brasil. Se o União Brasil entrar como vice, naturalmente entrariam na campanha ajudando.
Moro iniciou a trajetória como pré-candidato mirando a artilharia em Lula. Na sexta-feira, 14, a revista “Veja” publicou uma entrevista em que ele diz que o principal adversário, daqui para frente, será Bolsonaro. Por que essa mudança? Nossa estratégia é apontar um projeto para o país, não é bater em um ou em outro. O que acontece é que temos que nos defender dos ataques. Ultimamente, tem havido muito mais ataque do Bolsonaro, não era nem o que esperávamos. A ideia não é atirar para os dois lados, é oferecer nosso projeto, que está sendo desenhado a mil mãos, porque o brasileiro precisa de esperança. Mas precisamos nos defender dos ataques. São fake news o tempo todo. Quem tem direcionado essas mentiras é Bolsonaro. Temos que colocar a nossa versão. Essa discussão com Bolsonaro ocorre porque ele tem feito ataque mais virulentos a Moro.
Por que não esperava ataques de Bolsonaro? Pela história de Moro. Ele foi o homem que prendeu o Lula. Na minha percepção, era natural que tivesse uma animosidade com PT e com o Lula. No entanto, o que se observa é que, como Moro concentra o segundo voto do eleitor de Bolsonaro, que tem sofrido um esvaziamento, o presidente da República parte para cima dele.
Pesquisa da Quaest mostra Moro como o melhor desempenho da terceira via, com 9%, mas aponta 59% de rejeição. Não é um percentual impeditivo para uma candidatura? Há um número mais importante: 52% estão indecisos, é este número que vai decidir a eleição. Ninguém bate em Lula, e ele está calado. O Moro virou o alvo dos dois lados. É importante observar o motivo desta rejeição, o que faz toda a diferença. Numa pesquisa que fizemos, quem rejeita Lula diz que ele é corrupto e ladrão. Quem rejeita Bolsonaro diz que ele é despreparado e incompetente. Os que rejeitam Moro dizem que ele é parcial. O que é mais fácil de reverter: a percepção de que alguém é parcial ou corrupto e incompetente? O motivo da rejeição é mais importante do que o percentual em si, porque vemos se há ou não condição de reversibilidade.
Mas Moro é rejeitado por petistas, que o acusam de ter usado a magistratura para tirar Lula da eleição, e por bolsonaristas, para quem ele utilizou o governo para tentar chegar ao STF. A senhora não encara isso como um obstáculo? Não. Bolsonaro tem 10%, 12% de apoio daqueles que são “bolsominions”. Outros 15% são anti-Lula, o evangélico, o eleitor ligado ao agronegócio, outras variáveis. Os evangélicos estão insatisfeitos, mas não sabem o que o Moro pensa. Na campanha, ele vai se posicionar, vai falar com determinados segmentos. Bolsonaro tem 66% de rejeição e é tido como importante. Em linhas gerais, o que as pesquisas nos mostram? Coloque Bolsonaro no segundo turno e eleja Lula presidente. Quando entenderem que a rejeição de Bolsonaro é irreversível, tende a haver reversão dos votos. Pergunte a um amigo seu que diz que apoia o governo em quem ele votaria se não fosse em Bolsonaro. Eu aposto que ele vai falar Moro.
Muito se fala sobre o número mágico dos 15% que Moro teria que alcançar para se tornar, de fato, o nome da terceira via. O partido trabalha com alguma meta de desempenho? Não tenho dúvidas de que o eleitor só vai se interessar por eleição daqui para frente. Quando colocam que Moro tem que atingir um patamar ou desistir da candidatura, fazem isso porque querem enfraquecê-lo. Nenhum candidato tem grandes variações até começar as eleições. O eleitor não fala de eleição agora, em janeiro. Nesse momento, falam de Covid-19, de influenza, de emprego. E quando a campanha começar, Moro larga com dois dígitos, o que é muito positivo. As pesquisas mostram que muitos não querem Lula nem Bolsonaro. É mais fácil colocar Doria ou Moro no segundo turno?
Qual o plano do partido para que o eleitor possa saber o que Moro pensa economia e educação, por exemplo? Como você disse, há muita gente que quer saber o que ele pensa sobre esses assuntos. Cada eleitor tem sua preocupação. As pessoas não sabem o que ele pensa sobre a pauta conservadora, sobre o agronegócio brasileiro. Isso só vai ser possível durante a pré-campanha e a campanha, com o posicionamento que tem sido exposto nas redes sociais e quando o foco das pessoas for realmente a eleição.
Moro quer se vender como um conservador, assim como Bolsonaro o fez em 2018? Moro não explora essas pautas politicamente falando, mas tem um perfil conservador. É liberal na economia e conservador nos costumes. Eu acho, pessoalmente, que é mais conservador que o Bolsonaro. Bolsonaro fala de família, mas não é exemplo de família. Se tem uma coisa para qual Bolsonaro não pode ser exemplo é família. Moro é casado há 22 anos com a mesma mulher, educa bem os filhos.
A senhora espera que algum candidato abra mão da postulação em favor de Moro? Tudo pode acontecer.
A senhora acredita mesmo que o governador João Doria possa abrir mão da candidatura dele? Não sei se o Doria, mas no geral, sim. Acredito que candidatos vão aglutinar as candidaturas.
Até quando isso deve acontecer? Até julho.
Moro se encontrou com o pastor Estevam Fernandes, que fez campanha para Bolsonaro. Como está a aproximação com líderes evangélicos? Estamos fazendo reuniões com os principais líderes evangélicos, estivemos com vários deles. Nas conversas, percebemos que há uma insatisfação com o governo Bolsonaro e que ficaram felizes de saber o que Moro pensa para o país. Bolsonaro é rejeitado por não ter competência para administrar o país, mas esses líderes evangélicos também dizem que o presidente fala demais, que falta estabilidade para o país. Se não houver estabilidade política e econômica, há prejuízo para a economia do país.
Fonte: Jovem Pan