As buscas pelo criminoso Lázaro Barbosa ocorrem há mais de 17 dias. Entre confrontos com policiais e invasões de chácaras, o fugitivo soma novos delitos à lista de crimes cometidos, que já inclui ao menos seis assassinatos, tentativa de homicídio, roubos, estupro e sequestro. As buscas por Lázaro começaram no dia 9 de junho, quando matou um casal e seus dois filhos em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. Desde então, uma série de detalhes sobre os crimes cometidos vem sendo relatados por pessoas que sobreviveram aos ataques do assassino. Entre as informações, está a prática de rituais satânicos, uso de drogas e bebidas e até gravações das vítimas nuas cumprindo suas ordens. Enquanto isso, mais de 200 policiais atuam nas buscas pelo fugitivo, que, agora, é popularmente conhecido como o “serial killer de Brasília” ou “serial killer de Ceilândia”. No entanto, sem uma análise dos casos e da motivação para os assassinatos, ainda há dúvidas se o criminoso pode receber a classificação. “Ainda é precoce para falar. Tenho dito que ele é um serial killer em formação. Ele tem tentado encontrar a forma como ele vai, de fato, atuar. Recentemente, as invasões que ele tem feito nas casas me parecem mais um instinto de sobrevivência. Mas ele não tem ainda um padrão, um modus operandi de como ele vai atacar a vítima e suas motivações, sejam por práticas sádicas, sexuais ou até psicológicas. Então ele ainda não é um serial killer, mas está no caminho para ser”, explica o psiquiatra Luís Guilherme Labinas.
Segundo o especialista, há diferentes interpretações sobre os critérios e características de um serial killer. Nos Estados Unidos, por exemplo, o termo é usado para se referir a um indivíduo que assassinou duas ou mais pessoas. Por outro lado, alguns profissionais usam a nomenclatura a partir de quatro homicídios. De qualquer forma, independente do número de mortes, é necessário que os crimes tenham acontecido em períodos diferentes, com um “momento de calmaria” e tenham outras singularidades, como o modus operandi, ou seja, a forma de matar ou de se livrar do corpo dos assassinados. Além disso, o perfil das vítimas também tende a ser o mesmo, o que não acontece com Lázaro. “Se a gente não fala nele como um serial killer ainda é porque não conseguimos constituir a motivação. A forma como assassinou as três pessoas de gênero masculino, a forma como assassinou a mãe e esposa da família são formas diferentes, a gente não tem um modo de atuação para identificar. O perfil também não conseguimos identificar. Temos a área de atuação [as chácaras], temos que ele assassinou mais de quatro pessoas, mas não temos toda essa completude de um serial killer para fazer esse diagnóstico”, afirmou o psiquiatra.
A psicóloga clínica Vanessa Gebrim também avalia que, a grosso modo, considerando apenas o número de mortes, Lázaro Barbosa pode ser chamado de serial killer, já que sua ficha criminal soma mais de quatro assassinatos. No entanto, ela afirma que o diagnóstico ainda é muito nebuloso e outros elementos devem ser considerados. “Lázaro matou uma família, você vê que não tem emoção, pode ser um traço da psicopatia. Mas ele saiu matando outras pessoas depois? É muito difícil falar que é ou que não é. A classificação de serial killer é quem comete dois ou mais assassinatos em série, com um intervalo de tempo que separa os eventos criminosos, pode ser dias, meses, anos. E as vítimas possuem o mesmo perfil. Então ainda é muito vago”, pontuou. Considerando o possível diagnóstico de psicopatia, a psicóloga alerta que o desenvolvimento do transtorno é influenciado pelo meio social e pelas experiências vividas, principalmente na infância e adolescência. “Geralmente falam que o serial killer tem presença de uma tríade. São pessoas que tiveram enurese [vazamento involuntário de urina] quando pequenos, desenvolveram algum tipo de violência contra animais ou crianças, também tiveram algum grau de piromania [obsessão com fogo]. Ou seja, já tinham comportamentos considerados não sociais, que fogem à regra, e isso pode ter começado na infância”, esclarece a especialista.
Fonte: Jovem Pan