Com o fim do primeiro mês de trabalhos da CPI da Covid-19, os senadores querem avançar sobre temas que dominaram boa parte dos depoimentos das dez testemunhas ouvidas até aqui. No chamado G7, grupo formado pelos sete parlamentares independentes e de oposição, prevalece o entendimento de que as oitivas revelam que o governo do presidente Jair Bolsonaro negligenciou a compra de vacinas contra o coronavírus e foi orientado por um gabinete paralelo – chamado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), de “Ministério da Doença” – sobre assuntos relacionados ao combate da crise sanitária. Em razão disso, a sessão da terça-feira, 1º, que irá receber a médica imunologista Nise Yamaguchi, é vista como fundamental pelo bloco majoritário do colegiado.
Nise Yamaguchi é apontada como uma das integrantes do gabinete paralelo, mas sua convocação atende os requerimentos apresentados pelos senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Marcos Rogério (DEM-RO), parlamentares alinhados ao Palácio do Planalto. Para o senador do DEM, a audiência “será de importância singular para que [a pesquisadora] exponha sua atuação e conhecimentos, com o objetivo único de restabelecer a verdade, oferendo informações transparentes e esclarecedoras”. Em seu depoimento à CPI, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, afirmou que partiu da imunologista a ideia de alterar a bula da cloroquina, a fim de recomendá-la para o tratamento da doença. Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, o fármaco é comprovadamente ineficaz.
“Me recordo [dessa reunião no Palácio do Planalto]. Confirmo que estávamos o Braga Netto, da Casa Civil, o ministro Mandetta, eu, a doutora Nise Yamaguchi e um médico do qual não me recordo o nome. Esse documento [minuta de decreto presidencial que previa a mudança da bula] foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação, confesso, um pouco deselegante. A minha reação foi muito imediata, de dizer que aquilo não poderia ocorrer. Só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora daquele país, desde que solicitado pelo detentor do registro”, disse o diretor da Anvisa. “Quando houve uma proposta de uma pessoa física fazer isso, me causou uma reação brusca”, acrescentou. A reunião no Planalto à qual Barra Torres se referiu foi citada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em sua oitiva.
Fonte: Jovem Pan