Imunologista critica ações individuas dos Estados na pandemia da Covid-19: ‘Precipitado e político’

Cabral de Miranda lembrou que a arma mais eficiente contra doenças infectocontagiosas é a vacina -- responsabilidade do Ministério da Saúde através do PNI

O imunologista e coordenador de pesquisas de vacinas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Gustavo Cabral de Miranda, acredita que um alinhamento nacional seria o melhor caminho para conter a pandemia da Covid-19. Ele, que trabalha no desenvolvimento de imunizantes contra o coronavírus, zika e chikungunya, defende que medidas estaduais isoladas são um grande risco. “Não adianta buscar, ter ações individuais dos Estados, achando que isso vai gerar resultados no controle da pandemia. Quando falamos de pandemia, falamos de planeta. Não podemos nos responsabilizar pelo planeta, mas podemos pela nação. Uma ação de um Estado individual, que não segue orientações nacionais, tende a isso. Mesmo que tenha controle inicial, a pandemia tende a retornar até mais forte”, avalia. Na última quarta, 29, o governador de São Paulo, João Doria, anunciou a retomada quase total das atividades em meados de agosto.

Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, Cabral de Miranda lembrou que a arma mais eficiente contra doenças infectocontagiosas é a vacina — responsabilidade do Ministério da Saúde através do Plano Nacional de Imunização (PNI). “Ações individuais são extremamento precipitadas e políticas.” Para o imunologista, ainda é cedo para falar em terceira dose da vacina ou em uma segunda rodada de imunização a partir do ano que vem. “Quando a gente pensa em vacinação, a gente tem que seguir alguns preceitos básicos. A gente não pode lançar que vai ter terceira dose no meio de uma pandemia, onde boa parte da população desconfia da eficácia da vacina. As pessoas vão achar que a vacina não funciona bem. Campanhas desse tipo deixam as pessoas desconfiadas. Para pensar em terceira dose, precisamos de um dado básico: a durabilidade da eficácia da vacina. Nós não temos isso, ainda bem. Se tivéssemos, significaria que a vacina parou de funcionar”, explica.

Gustavo Cabral de Miranda alertou para os riscos das variantes, como a delta. “No ano passado, falávamos em grupo de risco. Neste ano, toda a população já é. No Reino Unido e nos Estados Unidos conseguiram controlar a pandemia. Mas, com novas variantes dispersadas, eles estão dando um passo para trás. Isso nos alerta também. Precisamos ser cautelosos. O vírus não escuta nossas orientações, ele só se dispersa. Quando geramos abertura sem seguir pontualmente as orientações, a gente perde esse controle. É de extrema importância levar em consideração que a variante está aqui e, com o dispersar do vírus, podem surgir novas variantes que podem escapar parcialmente das vacinas.”

Ele alerta que a flexibilização é natural — e deve, sim, acontecer. “Não através de promessas políticas, mas por orientação científicas. Se entrar em descontrole, no mês que vem a gente não volta para o distanciamento, mas para o isolamento. E a gente não quer lockdown.” O coordenador de pesquisas do ICB-USP também alerta que o “passaporte da vacina” é uma estratégia lucrativa, mas perigosa. “Manter países fora de controle é lucrativo porque vai gerar novas variantes. Pode escapar da vacina e obrigar adaptações nos imunizantes. Os países que tem condições, vão consumir. Mas é perigoso porque, embora tenha lucro enorme para uma parte das farmacêuticas, todo o sistema pode quebrar.” Por isso, ele defende que as ações precisam ser globais.

 


Fonte: Jovem Pan

Comentários