Kajuru diz que governo Bolsonaro vive pior momento: ‘Centrão está no comando’

Kajuru foi um dos autores do mandado de segurança que garantiu a instalação da CPI da Covid-19

Um dos autores do mandado de segurança apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que garantiu a instalação da CPI da Covid-19, o senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) afirma que os trabalhos da comissão estão “comprovando a corrupção” e “revelando escândalos” no Ministério da Saúde. Por telefone, o parlamentar falou à Jovem Pan na quinta-feira, 22, sobre a atuação do colegiado, a indicação do Advogado-Geral da União, André Mendonça, à Suprema Corte, a recondução de Augusto Aras para o comando da Procuradoria-Geral da República (PGR) e a escolha do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. Para Kajuru, este é o pior momento do governo do presidente Jair Bolsonaro. “O Centrão está no comando”, avalia. Ele pondera, no entanto, que ceder espaços aos partidos que compõem este bloco pode prejudicar o governo federal. “A chance de colocar o Centrão nesses postos do governo e trazer corrupção para dentro do governo é muito grande”. Confira abaixo a íntegra da entrevista:

O senhor foi um dos autores do mandado de segurança que resultou na instalação da CPI da Covid-19. Qual o balanço do senhor sobre os três primeiros meses de trabalho? Confesso que fiquei surpreso com a CPI, porque tinha receios. A surpresa é boa, primeiro pela qualificação dos senadores que estão se preparando para os questionamentos, que não vão lá pelos 30 segundos do Jornal Nacional. Alguns vão despreparados e só querem aparecer. Essa é a parte ruim, o nível cai. O presidente Omar Aziz só cometeu um erro: ele deveria ter decretado a prisão de mais gente. A CPI existe para isso. Mas o mais importante foi a descoberta de escândalos. Para mim, o presidente [Bolsonaro] não roubou, mas ele está errado ao dizer que não deixa ninguém roubar. Nem Deus, na Presidência, evitaria a corrupção com tanta gente trabalhando ao seu redor. Estamos vendo a comprovação de corrupção. E vão aparecer mais escândalos. Nos 90 dias finais, será ouvida gente mais forte e mais considerável do ponto de vista de informar o que não sabemos e coisas que o Brasil precisa saber. O lado ruim é esse Fla-Flu, porque aí vira revanchismo. E acaba tendo o espírito revanchista por causa dos governistas. O Flavio [Bolsonaro] discute toda hora com o relator [Renan Calheiros], quer falar toda hora. Aí vira aquela bagunça, aquela parte patética com o Flavio, com o Marcos Rogério, é muito ruim. Virou uma guerra pessoal. O Flavio disse que a relação dele com o Renan virou uma guerra. Não pode ser assim. Temos que ter uma apuração independente.

Os jornais divulgaram um vídeo da secretária Mayra Pinheiro, da Saúde, dizendo que precisava de perguntas e respostas para alinhar o depoimento com os senadores que chutariam para ela fazer o gol. O que o senhor pensa disso? Foi revoltante ver o vídeo da Mayra Pinheiro. Ela deveria ter sido presa. Isso de combinar pergunta e resposta, para mim, é motivo de expulsar o senador da CPI. É motivo, inclusive, para a CPI ser justa e me colocar no lugar desse senador. A CPI só existe porque eu e o Alessandro [Vieira] fomos ao STF. É um desgaste enorme para o governo. O presidente Bolsonaro não pode achar que o público dele aceita qualquer coisa. O Brasil não é só seu público. As pessoas estão se decepcionando. Até bolsonaristas que eu conhecia, os fanáticos, mudaram de opinião. Em qualquer governo minimamente sério, ela deveria ter sido demitida.

O Senado terá que sabatinar o procurador Augusto Aras e o ministro André Mendonça. O senhor votará contra? Essas indicações são a parte mais triste desses últimos dias. Quanto ao André Mendonça, fui o primeiro a dizer que não o receberia, não falaria por telefone e que votaria contra. Por quê? Pelas qualificações, que não as vejo. É um lusco-fusco, um Kássio Nunes [indicado por Bolsonaro para a vaga do ministro Celso de Mello]. Na AGU, ele é mais advogado do Bolsonaro do que da União. Por fim, fiquei intrigado e é preciso ter coragem para falar isso: o credo não deve importar para votarmos uma indicação de ministro do STF. Não interessa se ele é católico, ateu, evangélico. Interessa se chegará preparado ao STF, se tem qualificação. O Mendonça está em campanha pelo Brasil, viajando. Quem está pagando? E o Aras, meu Deus. Ele é um Geraldo Brindeiro da época do Fernando Henrique Cardoso, é um engavetador de tudo o que aparece contra a Presidência. Ele é da cozinha do presidente. São dois péssimos nomes. Esperava que Bolsonaro escolhesse melhor. O presidente começou o governo com nomes fantásticos, ministro Tarcisio [da Infraestrutura], ministra Tereza [da Agricultura], ministro Queiroga [da Saúde]. Agora, Aras e Mendonça, meu Deus.


Fonte: Jovem Pan

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