O presidente e o primeiro-ministro transitórios do Mali, Bah Ndaw e Moctar Ouané, foram presos e levados para um campo militar a cerca de quinze quilômetros da capital Bamako nesta segunda-feira, 24. Horas depois, o vice-presidente transitório do país, o coronel Assimi Goita, anunciou na emissora de televisão nacional que Ndaw e Ouané foram destituídos, mas não explicou como ficará a chefia do Estado e nem o que será feito dos detidos. No entanto, ele assegurou que “o processo de transição continua seu curso normal”, com a manutenção das eleições previstas para 2022, e convidou o povo a “continuar livremente com suas ocupações”. O coronel também afirmou que as razões desta ação estão ligadas a uma “crise de muitos meses em nível nacional”, fazendo referência às greves e manifestações convocadas por ativistas sociais e políticos. Porém, as detenções aconteceram logo após a divulgação da nova composição do governo malinês, que pode ter causado descontentamento entre os militares devido à exclusão de dois importantes comandantes que lideraram o último golpe contra o ex-presidente Ibrahim Boubacar Keita. Fontes da agência de notícias Reuters afirmam que o ministro da Defesa do Mali, Souleymane Doucoure, também foi preso. As trocas de poder podem exacerbar a instabilidade do país, onde grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico controlam grandes áreas do deserto ao norte. A missão da Organização das Nações Unidas (ONU) no Mali utilizou o seu perfil no Twitter para pedir a libertação imediata de Ndaw e Ouané, advertindo ainda que aqueles que os detêm terão que responder por suas ações. Em mensagem semelhante, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar “profundamente preocupado com a informação sobre a detenção dos líderes civis responsáveis pela transição no Mali”. Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse a jornalistas que “o que aconteceu é muito sério” e que está pronto para “considerar as medidas necessárias”.
Contexto
Em 18 de agosto de 2020, o coronel Assimi Goita liderou um golpe de Estado no Mali que destituiu o então presidente Ibrahim Boubacar Keita. No final de setembro, a junta militar conhecida como Comitê Nacional de Salvação do Povo nomeou Bah Ndaw presidente de transição por um período de 18 meses. Nessa ocasião, o comitê foi dissolvido, mas os membros foram nomeados para cargos no governo transitório. Porém, no último dia 14 Ndaw decidiu dissolver o primeiro governo de transição e encarregou o primeiro-ministro Moctar Ouané de formar um novo, mais inclusivo e que integrasse representantes de diferentes partidos políticos e da sociedade civil. A principal suspeita é que a nova formação anunciada há pouco desagradou os militares e causou um segundo golpe militar.
Fonte: Jovem Pan