Na CPI da Covid-19, empresário admite financiamento a site negacionista e defende posição antivacina

Mesa da CPI da Covid-19 durante oitiva do empresário Otávio Fakhoury

Em mais um depoimento marcado por tumultos e troca de acusações entre senadores, o empresário Otávio Fakhoury admitiu que financiava o site do Instituto Força Brasil (IFB), conhecido por propagar teses negacionistas e que entrou na mira da CPI da Covid-19 pela tentativa de vender imunizantes ao Ministério da Saúde, e defendeu uma posição antivacina, contrária ao uso de máscaras e a favor de medicamentos do chamado “kit-Covid”. O depoente é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito dos inquéritos dos atos antidemocráticos e das fake news. Ele chegou ao Senado amparado por um habeas corpus que lhe garantiu o direito ao silêncio, mas respondeu a todos os questionamentos. Fakhoury também é vice-presidente do IFB.

Ao longo da sessão, os senadores exibiram vídeos nos quais Fakhoury ataca a eficácia dos imunizantes, sobretudo a CoronaVac, e prega contra o uso de máscaras. O empresário também aparece na gravação de uma campanha em defesa do chamado “tratamento precoce”, composto por medicamentos comprovadamente ineficazes para o combate à Covid-19. Questionado pelos senadores, ele afirmou que trata-se da sua “opinião”. “As pessoas pegaram o vírus usando a máscara do mesmo jeito. Cada um pode usar o que se sente protegido. Se a pessoa se sente protegida com máscara, pode usar. A minha opinião é que ela não protege”, disse. Fakhoury também afirmou que não se vacinou contra a Covid-19 porque, segundo o seu médico, ele possui “imunidade alta” – argumento semelhante foi apresentado na quarta-feira, 29, pelo empresário Luciano Hang. “Isso não é liberdade, é crime. Liberdade de opinião é eu torcer para o Flamengo, o senador Tasso torcer para o Ceará. Quando a sua opinião compromete a vida de todos, isso não é liberdade não”, rebateu o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). “A todos os brasileiros: não façam como o senhor Fakhoury. Se vacinem”, acrescentou o senador da Rede. “Estou sendo julgado aqui pelas minhas opiniões”, insistiu o depoente.

Fakhoury também admitiu que financiava o Instituto Força Brasil, do qual ele é vice-presidente. Um documento exibido pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL) aponta que o último aporte feito pelo empresário, aproximadamente no valor de R$ 80 mil, ocorreu em junho deste ano, quando os trabalhos da CPI da Covid-19 já ocorriam. “Eu prometi fazer um aporte para custear o instituto até que ele tivesse operando, com captação e com membros”, disse. Mesmo não tendo nenhuma relação com o setor farmacêutico, o IFB tentou vender vacinas ao Ministério da Saúde por meio da Davati Medical Supply. A empresa se dizia representante da AstraZeneca e prometia entregar 400 milhões de doses do imunizante à pasta. Militar da reserva e presidente do instituto, o coronel Helcio Bruno de Almeida é apontado como o responsável por aproximar Luiz Paulo Dominguetti e Cristiano Carvalho, que se apresentavam como representantes da Davati, do secretário-executivo da Saúde na gestão de Eduardo Pazuello, Elcio Franco Filho.

Os senadores, inclusive, ironizaram o fato de Fakhoury criticar o que chama de “vacinas experimentais”, mas ser vice-presidente de um instituto que tentou intermediar a venda de imunizantes. “O senhor continua no instituto mesmo sabendo que o presidente quis vender vacina que você é contra?”, questionou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). “O presidente desse instituto tentou vender vacina. O senhor não se vacinou e disse que sua família não vai se vacinar”, seguiu o parlamentar do Amazonas. O empresário disse que só soube do caso Davati “depois que aconteceu” e que não conhece “nenhuma das pessoas” envolvidas na tentativa de negociação. Ele também ressaltou que o cargo que ocupa no IFB é “figurativo”, não tendo “poderes deliberativos”. A vacina da Pfizer possui registro definitivo na Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos; os imunizantes da AstraZeneca, da Janssen e do Instituto Butantan são aprovados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Durante a sessão, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) enviou aos senadores um parecer ressaltando que todas as vacinas foram devidamente testadas – o texto foi lido por Randolfe.


Fonte: Jovem Pan

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