‘Único inimigo comum desapareceu, e diferença entre Talibã e EI se tornou evidente’, diz especialista

Talibã tomou o controle do Afeganistão após a saída dos Estados Unidos

O professor de relações internacionais do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Manuel Furriela, apontou qual deve ser o cenário do conflito que se instaurou no Afeganistão entre o Estado Islâmico de Khorasan, chamado no exterior de “Isis-K”, e o Talibã, que retornou ao poder após a saída das tropas norte-americanas. Para o professor, o confronto está dado a partir do momento em que os grupos extremistas perderam seu inimigo comum: os Estados Unidos. “Enquanto os Estados Unidos e aliados da Otan ocupavam o Afeganistão, havia por parte dos grupos extremistas de toda aquela região do Oriente Médio uma aliança por causa desse inimigo comum que se tornou os EUA”, lembra Furriela em entrevista ao Jornal da Manhã. “A partir do momento em que os Estados Unidos começaram a dialogar com o Talibã, ainda na gestão do Trump, e havendo a decisão do Joe Biden de retirar as tropas americanas, apareceu uma diferença entre o Estado Islâmico e o Talibã. Uma delas é que o Estado Islâmico não aceita a negociação com os Estados Unidos e o ocidente. A outra é de projeto. O EI tem um projeto amplo de construção de um grande irado, que seria próximo a um Estado com conceito medieval, em uma região muito maior, que teria como base central grande parte do Oriente Médio”, explica o professor da FMU.

“O projeto dos dois é diferente. Quando o único inimigo comum desaparece, o EI entende que tem que manter uma luta internacional contra o ocidente, enquanto o Talibã entende que, tendo o Afeganistão sobre seu controle, já é o suficiente. A partir do momento em que a diferença aparece, os conflitos na região vão se intensificar”, prevê Furriela, que acredita que o Talibã, apesar de ser o grupo majoritário no Afeganistão, não conseguirá controlar todo o território por causa dos grupos insurgentes que vem aparecendo e pelo antagonismo com o Estado Islâmico. Sobre a saída dos Estados Unidos, o professor não acredita que a decisão não foi acertada. Para ele, o problema está na execução. “Quando os Estados Unidos invadiram o Afeganistão com os britânicos, houve uma aceitação internacional, porque os Talibãs governavam o Afeganistão e davam guarida à Al-Qaeda. Com 0 desmonte da Al-Qaeda, o projeto dos EUA se tornou construir um governo sólido e de preferência democrático para evitar a retomada dos talibãs, mas isso nunca foi concretizado”, diz Furriela.


Fonte: Jovem Pan

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