Pandemia acelera o ensino híbrido na educação brasileira e cria desafios para 2021

Em São Paulo, 500 mil alunos da rede estadual de ensino podem reprovar em 2020

O mundo da educação enfrentou intensos desafios – e transformações – em 2020. Em meados de março, com a chegada da pandemia da Covid-19 no Brasil, escolas públicas e privadas, assim como universidades de todo o país, suspenderam aulas e fecharam as portas do ensino presencial. Por quase cinco meses, alunos e professores precisaram se adaptar às nuances e dificuldades do ensino remoto. Nesse caminho, muitas foram as mudanças na forma de ensinar e na maneira de aprender. Meses depois, a poucos dias do fim de 2020, no entanto, a educação brasileira ainda segue com a principal dúvida: qual o destino do ensino em 2021? Em meio às incertezas pela pandemia, autoridades debatem como avaliar os alunos de forma justa, considerando o abismo educacional escancarado pela emergência sanitária. Quais critérios para aprovação ou reprovação dos alunos? Como mensurar o tamanho dos prejuízos e das consequências da pandemia na educação brasileira? E de que maneira é possível reduzir os altos índices de evasão escolar, que aterrorizam o ensino? Abordando esse contexto, a Jovem Pan conversou com autoridades e especialistas na área da educação para entender as mudanças, desafios e aprendizagens em 2020.

O dilema da reprovação

Em 11 de novembro deste ano, o governo do Estado de São Paulo anunciou a possibilidade de reprovar 500 mil alunos da rede estadual de ensino. Na ocasião, o secretário de educação Rossieli Soares negou que os estudantes seriam automaticamente aprovados, explicando que os 500 mil alunos, que representam 15% do total de matriculados do ensino fundamental ao ensino médio, não entregaram sequer uma das atividades desenvolvidas pelos professores ao longo de 2020, o que levaria, portanto, a reprovação. O anúncio dividiu opiniões de professores e demais autoridades da educação, que questionam a entrega dos trabalhos como critério único para aprovação e mensuração de aprendizagem. Para o educador e presidente do Instituto Casagrande e da Alleanza Educacional, Renato Casagrande, a postura adotada pelo governo estadual tem uma característica mais punitiva do que de avaliação. “A medida do Estado de São Paulo tem um caráter mais punitivo do que de avaliação e voltado para aprendizagem, já que, para o governo, aqueles alunos que encaminharam as avalições, independente se aprenderam ou não, estariam aprovados automaticamente. E os alunos que não encaminharam seriam reprovados. Isso passa a ideia, e talvez seja esse o objetivo mesmo, de que, se esse alunos continuarem fora da escola, eles terão o ano perdido. Acredito que não é a melhor maneira, já que temos outras formas, talvez mais afetivas, de trazer os alunos para as escolas. Sabemos que muitos desistiam de estudar pelas condições precárias, então é muito difícil pensar em mais uma punição para esses alunos”, avalia. Assim como Casagrande, a professora Alessandra Seixas também considera problemática a reprovação direta dos alunos. Embora reconheça a dualidade e o dilema existente entre reprovar estudantes que não tiveram acesso ao ensino em 2020 e, ao mesmo tempo, aprovar alunos que não possuem base educacional para avançar a próxima etapa de ensino – a especialista considera que, mais uma vez, no tema da reprovação cabe intenso debate.


Fonte: Jovem Pan

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