Em meio a polêmicas sobre a vacinação contra a Covid-19 no Brasil, a pesquisa “Global Attitudes on a Covid-19 Vaccine”, realizada pela Ipsos, mostrou que o percentual de pessoas que se imunizariam contra o coronavírus no País diminuiu de 88% para 81% de agosto a outubro deste ano. O aumento da rejeição entre os brasileiros também foi observado em um levantamento feito pela XP/Ipespe. Segundo a pesquisa, o percentual de pessoas que afirmaram que “com certeza irão se vacinar” diminuiu de 70% para 66% do final de outubro para o início de novembro. Além do receio com o avanço muito rápido dos testes clínicos, especialistas alertam que a politização do tema, causada principalmente por declarações do presidente Jair Bolsonaro, pode ter influenciado no crescimento da rejeição. Além de ter defendido diversas vezes que a imunização não seja obrigatória no País, Bolsonaro afirmou, no último mês, que a vacina deve ser desenvolvida “sem pressa”. O presidente ainda travou um embate com o governador de São Paulo, João Doria, ao proferir opiniões contrárias à CoronaVac, produzida pela China e desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan.
“Essas questões precisam ser levadas a sério e não estão. Isso nos entristece como cientistas porque joga por terra um trabalho que estamos fazendo. É um esforço diário em tempo recorde, nunca foi produzida uma vacina nesse tempo. Essa polarização política vem cada vez mais prejudicando o trabalho dos cientistas e profissionais de saúde”, afirmou à Jovem Pan o virologista Raphael Rangel, que representa o Conselho de Biomedicina e é coordenador do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação. Para ele, existe, ainda, uma rejeição maior da população à Coronavac por causa da origem chinesa do coronavírus, cercada de teorias da conspiração, como a retórica que alega que o Sars-CoV-2 foi fabricado em laboratório. “A população deve entender que os cientistas não fazem os testes observando que a pessoa vai utilizar aquilo ali para o partido A ou partido B. A vacina desenvolvida pela Sinovac, se continuar mostrando eficiência, todos devem tomar, porque se ela chegou ali produz imunogenicidade e é segura para a população. E se foi desenvolvida em tempo recorde que bom, a tecnologia hoje nos permite isso”, defendeu o virologista.
Segundo o estudo da Ipsos, entre o percentual de brasileiros que não tomaria a vacina caso estivesse disponível, 48% justificaram que estão preocupados com o avanço muito rápido dos testes clínicos. Além disso, 27% citaram preocupação com os efeitos colaterais, 7% não se vacinariam pois não acreditam que a imunização seria eficaz, 7% alegam que o risco de contágio pela Covid-19 é baixo, 6% se declaram contra vacinações em geral e 3% mencionaram outras razões. No Brasil, a data de vacinação ainda é incerta, já que até o momento nenhum imunizante foi aprovado no País. Quatro já foram autorizados para desenvolvimento pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a CoronaVac, a de Oxford, a da Pfizer + BioNTech, e a da Johnson & Johnson, sendo que as três primeiras já estão em processo de análise final pelo mesmo órgão. O diretor da área de pesquisas Healthcare da Ipsos, Fabrizio Maciel, disse à Jovem Pan que as declarações do presidente não foram citadas espontaneamente no levantamento, no entanto afirmou que é provável que exista uma relação, já que Bolsonaro colocou, por diversas vezes, a eficácia das vacinas em dúvida. “Se primeiro for aprovada a do Butantan, pode haver uma politização maior do governo federal e estadual. Se for a da Pfizer, que tem uma dificuldade maior de logística pode gerar um outro tipo de discussão. Não vai ser tão simples assim”, pontuou. Porém, o diretor de pesquisas da Ipsos alega que outras razões também podem ter influenciado na diminuição da intenção de se vacinar no País, como a sensação de “vida normal” causada pela reabertura econômica.
Fonte: Jovem Pan