Relembre as polêmicas do último ano de Donald Trump na Casa Branca

Ainda não se sabe se Trump se lançará como candidato novamente em 2024, mas é cero que em janeiro de 2021 ele terá que deixar a Casa Branca

O comportamento e as ideias defendidas por Donald Trump são tão difíceis de serem enquadrados em grandes sistemas de compreensão que os especialistas inventaram um termo só para designar a sua política, que ficou conhecida como “trumpismo”. Um dos presidentes mais controversos da história dos Estados Unidos, o empresário do mercado imobiliário inaugurou uma diplomacia feita através do Twitter, que tende mais para o confronto e para o unilateralismo do que para uma estratégia diplomática propriamente dita. A relação com o Irã, que se deteriorou ainda mais nos últimos quatros anos, é um exemplo disso. Em uma manobra pouco compreensível, o republicano retirou os Estados Unidos do acordo nuclear e impôs sanções à nação persa, sem propor um novo tratado ou levantar novas exigências ao país – como o fim do financiamento ao terrorismo, que ele tanto condena. A resposta do governo iraniano, que é dividido entre o presidente Hassan Rouhani e o aiatolá Ali Khamenei, foi quebrar a sua parte do combinado, enriquecendo urânio em quantidades superiores ao permitido. O que já estava ruim se tornou ainda pior com a ameaça de uma guerra nuclear no início de 2020, quando Trump ordenou o assassinato do principal general iraniano, Qassem Soleimani. A partir daí houve uma sequência de trocas de ameaças que não se concretizaram em um conflito armado. O caso, no entanto, serve para ilustrar uma tendência. “Desfazer o que foi feito anteriormente, sem colocar outra coisa no lugar, resume bem o governo Trump”, afirma o professor de relações internacionais da FAAP Carlos Gustavo Poggio.

Conhecido pelo seu talento com a publicidade e a autopromoção, Donald Trump se vangloriou dos seus esforços diplomáticos para que Israel fosse reconhecida por quatro países árabes nos últimos meses, todos eles inimigos do Irã: Marrocos, Bahrein, Emirados Árabes e Sudão. Os acordos aconteceram mediante concessões simples por parte dos Estados Unidos, como reconhecer a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental ou tirar o Sudão da lista de países que apoiam o terrorismo, mas foram vendidos como grandes avanços para a paz no Oriente Médio. A retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão e do Iraque, uma promessa de sua primeira campanha à presidência, seguiu uma estratégia semelhante e aconteceu somente no ano em que o republicano tentou a reeleição. O restante da política externa do governo norte-americano em 2020 foi coerente com a ideologia que Donald Trump sempre resumiu em duas palavras: “America First”, ou seja, Estados Unidos em primeiro lugar. Em meio à pandemia do novo coronavírus, o presidente revezava as suas críticas entre a China, a quem atribuía uma “nacionalidade” do vírus, e a Organização Mundial da Saúde (OMS), para quem deixou de destinar fundos. Segundo Poggio, o comportamento padrão de um presidente descontente com uma entidade global seria buscar mais influência dentro dela, e não partir para o rompimento, como o republicano fez. “A relação de Trump com a OMS reflete a visão que ele tem de todas as organizações multilaterais”, explica. Para o especialista em política externa norte-americana, o bilionário possui uma “visão contábil” das relações internacionais e não percebe os benefícios da liderança dos Estados Unidos, sendo que a retirada da nação desse papel criou vácuos de poder que foram preenchidos justamente pela sua rival, a China.

Outras atitudes relacionadas ao combate à Covid-19 também foram auto centradas, principalmente no que diz respeito às vacinas. Os Estados Unidos decidiram não fazer parte da Covax, uma coalisão criada pela OMS para garantir imunizantes às nações mais pobres do mundo, e deram a entender que queriam ter um acesso prioritário e exclusivo à vacina. Além disso, o surto do novo coronavírus foi usado como justificativa para negar asilo a estrangeiros e deportar os que estavam no país, decisão vista por alguns críticos como um pretexto, já que o presidente é declaradamente a favor de uma política anti-imigratória. Apesar de não ter sido um exemplo vivo para a população norte-americana, Donald Trump se mostrou favorável ao uso de máscaras e do distanciamento social no início da pandemia. À medida em que teve que injetar mais e mais dinheiro na economia, no entanto, o presidente passou a defender a reabertura econômica a partir de maio, mesmo reconhecendo que isso poderia gerar mais mortes no país. O republicano também foi um grande defensor do uso de certos medicamentos para tratar a Covid-19, especialmente o remdesivir, apesar de ainda não existirem evidências científicas de sua eficácia – ele mesmo acabou se tratando com esse fármaco quando contraiu a doença em outubro. O fato é que, sob a sua gestão, os Estados Unidos se tornaram o país mais afetado do mundo pelo novo coronavírus, tanto em número total de casos quanto de mortes. Por outro lado, tudo indica que a economia do país terá uma recuperação mais rápida do que, por exemplo, a dos países europeus. “Assim como verificamos após a crise financeira de 2008, a economia dos Estados tende a ser mais resiliente”, ressaltou o professor de relações internacionais.


Fonte: Jovem Pan

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