A incidência de formação de coágulos sanguíneos em pessoas que tomaram a vacina da Universidade de Oxford, desenvolvida em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, contra a Covid-19 provocou a interrupção temporária da imunização com este produto em determinados países da Europa. Nesta quinta-feira, 22, a agência reguladora de medicamentos do Reino Unido disse que houve 168 ocorrências de coágulos sanguíneos grandes após ser aplicada uma dose da vacina, um índice de 7,9 coágulos por milhão de doses. No Brasil, pelo menos 47 casos são investigados como suspeitos de possível efeito adverso da vacina de Oxford, produzida no país em parceria com a Fiocruz. Nos Estados Unidos, ocorrências de problemas semelhantes foram registradas após aplicação da vacina da Johnson & Johnson. Neste último, a maioria das notificações aconteceram em mulheres entre 18 e 48 anos. Apesar da União Europeia não ter registrado problemas com este imunizante, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) concluiu que pode existir uma relação entre a vacina e casos de coágulos combinados com baixos níveis de plaquetas no sangue. Por isso, exigiu que isso seja apontado na bula como possível efeito colateral muito raro.
Apesar de serem apenas especulações, existe a possibilidade desse evento adverso estar relacionado à tecnologia usada nos dois imunizantes. Tanto a vacina de Oxford quanto a da Janssen foram feitas baseadas em adenovírus — quando um outro vírus é usado como vetor para carregar as informações genéticas do coronavírus para que o sistema imune seja estimulado a combater a doença. Porém, existem muitos outros fatores que podem propiciar a formação de coágulos e, em alguns casos, problemas de trombose. De acordo com o especialista em Clínica Médica, Luiz Antônio Nascimento, um deles pode ser a falta de mobilidade ou a própria infecção pela Covid-19. Por isso, entidades de saúde, como a própria EMA, seguem defendendo que os benefícios do imunizante superam eventuais riscos à saúde. De acordo com um estudo preliminar da Universidade de Oxford, o risco de desenvolver um coágulo cerebral grave — condição conhecida como trombose venosa cerebral (TVC) — é oito a dez vezes maior em pessoas que tiveram coronavírus do que naquelas que receberam a vacina nos Estados Unidos.
O que é um coágulo?
O coágulo é uma defesa do organismo para prevenir sangramentos. A partir dele, porém, pode ser formada uma trombose. “Quando há um corte, através de um ferimento ou trauma, se rompe um vaso sanguíneo e o sangue sai. O organismo ativa fatores de coagulação para estancar o processo e evitar hemorragias através da criação de trombos. A trombose acontece quando esse trombo se desloca e ele pode obstruir vasos que são importantes”, explica o médico Luiz Antônio Nascimento. Segundo ele, existem fatores que estimulam essa coagulação naturalmente, de forma espontânea, sem que haja traumas ou algo parecido. Além da Covid-19 e da vacinação contra a doença, há também o tabagismo, o uso de pílula anticoncepcional, a predisposição genética e o câncer. E os riscos são inúmeros. De acordo com o clínico geral Roberto Debski, pequenas tromboses podem ser medicadas e controladas com anticoagulantes. Porém, se esse trombo atingir órgãos como pulmão, abdômen, cérebro ou alguma artéria importante, dependendo da extensão, as sequelas podem ser mais graves. “Existem três tipos de vasos: linfáticos, artérias e veias. Quando a trombose acontece em artéria, é pior. No território venoso, não é tão grave. Os casos registrados após uso da vacina foram o que a gente chama de TVP (trombose venosa profunda)”, complementa Nascimento.
Fonte: Jovem Pan