Em uma segunda noite de Carnaval no Rio de Janeiro marcada por problemas técnicos em diversas escolas, o principal destaque foi a Grande Rio. A escola de Duque de Caxias fez um desfile de alto nível e levantou a Sapucaí. A Unidos da Tijuca, que desfilou logo antes, surpreendeu com uma apresentação bastante colorida, assim como a Vila Isabel, que homenageou o nome mais famoso da escola, Martinho da Vila. Por outro lado, as três primeiras escolas, Paraíso do Tuiuti, Portela e Mocidade Independente de Padre Miguel tiveram problemas e decepcionaram. Assim como no primeiro dia, muitas vezes as escolas escolheram homenagear o Carnaval e figuras de suas próprias históricas.
Primeira da noite, a Paraíso da Tuiuti exaltou as contribuições do povo negro para a humanidade ao longo da história. Embora estivesse belo e correto até a metade, o desfile planejado por Paulo Barros, carnavalesco considerado estrela, acabou prejudicado pela fantasia de uma passista ter rasgado e, principalmente, por ter estourado o tempo em dois minutos, mesmo acelerando o passo no final – o que prejudica a harmonia e evolução. A correria ainda causou outro problema: o último carro alegórico prensou uma mulher que estava em uma cadeira de rodas na dispersão, após passar mal. Ela foi socorrida e levada ao Hospital Souza Aguiar com suspeita de fratura na perna.
Na sequência veio a Portela, maior campeã do carnaval carioca. O enredo homenageou o baobá, árvore africana importante em religiões do continente, e ligou a personagens importantes da própria escola, como Monarco, presidente de honra que morreu em 2021. A escola teve um problema em uma alegoria: uma decoração, um globo rompeu e não pode ser consertado, tendo que ir à avenida mesmo quebrado. Carros também tiveram problemas para serem manobrados e clarões se abriram na avenida. Apesar desses problemas, a arquibancada se levantou. A Mocidade Independente de Padre Miguel teve problemas parecidos. Ao cantar Oxóssi, orixá que protege a agremiação e cujo toque de atabaque originou o som característico de sua bateria, um carro que representava um elefante teve problemas e mais uma vez um buraco surgiu na avenida. Cogitada como candidata ao título, a escola decepcionou. Porém, um ponto emocionou: a escola levou para a avenida o trono no qual Elza Soares se sentava, mas o deixou vazio com a morte da cantora.
A Unidos da Tijuca não era cotada entre as principais candidatas, mas surpreendeu ao fazer um desfile belo que cantou a lenda do guaraná e a resistência indígena. Com muitas cores, a escola trouxe beleza para a avenida, com a comissão de frente, que representa o início da lenda e o equilíbrio entre bem e mal, como ponto positivo. Porém, assim como as predecessoras, teve problemas com um dos carros e deixou um espaço vago. Logo depois a Grande Rio fez um desfile apoteótico sobre Exu, divindade africana erroneamente associada ao demônio do cristianismo. Desde a comissão de frente, que representou Exu no topo do mundo, às alegorias e fantasias, a escola de Duque de Caxias fez um espetáculo incrível e se colocou como candidata ao título.
Por fim, veio a Vila Isabel, que homenageou seu presidente de honra, Martinho da Vila, um dos maiores sambistas do Brasil. A escola fez um desfile correto, e o homenageado apareceu logo no início, como parte da comissão de frente, ao ser coroado por guerreiros angolanos com a pele pintada de azul; mais tarde ele voltou e passou a pé na avenida ao lado dos outros integrantes. A apresentação falou da história de Martinho, contando a infância, os sucessos e as lutas sociais, e também a personalidade do cantor, simples e boêmia. O sentimento de alegria por realizar o desfile enquanto o sambista ainda está vivo e pode participar era visível na escola, que cantou a plenos pulmões o samba-enredo. Com o término dos desfiles, despontaram como principais candidatas ao título a Grande Rio e a Viradouro, enquanto Salgueiro, Mangueira, Beija-Flor, Vila Isabel e Tijuca correm por fora na disputa.