Obras de arte mais caras da história ultrapassam US$ 200 milhões; veja ranking e entenda o que define preços

Valor atribuído às obras depende da história dos quadros e dos artistas

Um leilão realizado em Nova York na última terça-feira, 16, fez com que a obra “Diego y yo” (Diego e eu), de Frida Kahlo, fosse arrematada por US$ 35 milhões (equivalente a R$ 190 milhões), se tornando um recorde para a artista e para todas as obras latino-americanas até o momento. Apesar do alto valor, o quadro de Frida não chega a custar 10% do preço da obra de arte mais cara já leiloada na história, o quadro “Salvator Mundi”, de Leonardo da Vinci, arrematado por US$ 450 milhões em novembro de 2017. Do ponto de vista artístico e econômico, uma série de fatores faz com que os preços de quadros pintados há décadas ou séculos atinjam valores estratosféricos, movimentando uma indústria centenária de casas de leilões e adicionando à arte conotações de negócios. Para além do tamanho ou do custo de confecção, o tempo, nome do artista e a incitação do “desejo de posse” daquela ideia são cruciais para determinar o preço de uma obra.

“A gente tem que entender que a arte é um ecossistema, é uma manifestação do ser humano, como é a ciência e como é a tecnologia. Um livro, poema, música, conjunto de instalações, toques e gestos podem contar histórias, revelar desejos de uma cultura, nos ensinar modos de fazer, nos ensinar maneiras de viver melhor e viver outras vidas. Quando a gente lê um livro que nos emociona, de certa forma estamos lendo outras vidas. Quando uma dessas histórias impacta muito ela vira uma história de desejo de muitos. Nesse caso, a gente começa a disputar isso, e atribuir valor às coisas. É um constructo mental. O que atribui valor à história de arte é o desejo dos humanos de se relacionarem com aquela história”, explica Rejane Cantoni, professora de Criatividade na École Intuit Lab, escola francesa de Design, Artes e Comunicação Visual em São Paulo. Ela traz como exemplo uma das obras mais famosas da história, a Monalisa, de Leonardo da Vinci, que não mostra apenas o busto de uma mulher, mas traz um novo tipo de perspectiva nas pinturas da época (que desfoca o fundo da imagem, ao contrário do que a maioria dos pintores fazia) e uma série de retoques com pigmentos que envelheceram ao longo de séculos.

“A Monalisa que a gente vê hoje é uma Monalisa que tem 500 anos de história, mas além disso o que o Leonardo ali faz é a maestria da época. Quando ele pinta aquele retrato, na verdade, ele está dizendo para a gente: ‘Nesta época nós víamos o mundo assim, as pessoas se vestiam assim’”, aponta a docente. A sensação de desejo e o reconhecimento em torno daquela cultura terminam sendo fatores que agregam valor à obra e tornam um quadro de Frida, “menos popular” do que da Vinci, mais barato do que a obra do italiano. “Se você for hoje em uma cidade remota e perguntar para alguma pessoa simples que tem uma experiência de mundo contemporâneo muito mais local do que internacional, o nome de um artista, a chance dela falar ‘da Vinci’ é maior do que de falar ‘Frida Kahlo’. É sobre qual história impacta mais. O Leonardo ainda impacta mais. É a força daquele signo”, analisa Cantoni, considerando excelente o trabalho de retrato do artista europeu. Para ela, por contar uma história mais local no México e ter em suas obras uma grande carga de drama, é possível classificar a arrecadação do quadro de Frida como impactante.

Do ponto de vista do leiloeiro Rafael Ruiz Zafalon de Paula, pessoa mais jovem do Brasil a exercer a função, a arrecadação dos milhões no quadro de Frida é importante não só por se tratar de uma obra latina, mas também por retratar o gênero feminino. “Essa foi uma marca para o mercado não só pelo valor, mas por ser [o quadro de] uma pintora mulher, que é um fato que, infelizmente, no mercado nós ainda temos uma certa defasagem. A história foi um pouco injusta com as mulheres, mas nós estamos mudando, eu espero que consigamos mudar isso com o tempo”, analisa. Ele lembra que para além da apreciação da arte, há uma relação econômica que envolve os arremates de obras por valores tão altos. “Todo colecionador é um investidor. Ele busca liquidez. É como um jogo de investimento na bolsa de valores: o nome do artista, a sua história, a sua produção, a permanência do artista no seu período e no seu estilo, a persistência daquela obra na sua história… Todos esses fatores são pontuais e essenciais para que essa peça, esse investimento, seja um ponto de liquidez e traga retorno”, explica. O profissional lembra que artistas brasileiros como Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Tomie Ohtake (que nasceu no Japão, mas viveu e morreu no Brasil) têm obras cada vez mais valorizadas no mundo dos leilões.


Fonte: Jovem Pan

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